quarta-feira, 12 de novembro de 2014

"Gentil" de gentileza

"Gentil" de gentileza, perfil biográfico (estilo livre) do cidadão indaiatubano Professor Gentil Gonçalves Filho escrito por mim que faz parte do livro "Solaris" Histórias e Personagens da Terra do Sol (Indaiatuba-SP), MHK Editora 2013 (Celso Falaschi e Mônica Kimura, org) 

“Gentil de gentileza”
Sergio  Eduardo  Del  Corso

Primavera de dia. Quente já logo pela manhã. Claro. Bonito. Cheio de luzes por todos os lados. Dia de sol na cidade onde ele mora.
Chego à frente da casa e logo percebo que existem dois números 165 e 319. Isto depois da dúvida de pensar que poderia ser o 309. Porém a informação que tinha era 319. Porque o 165? E uma placa no alto com duas letras: AG.
Logo vejo o Professor. Ao fundo atrás da garagem numa espécie de cômodo profissional. Estava sentado. Na sua frente uma mesa. Provavelmente onde fica o computador. Eu creio que é o escritório dentro do seu lar. E uma música clássica levita no ar tomando conta de todo o espaço: Chopin, Beethoven ou Mozart? Não consigo identificar e penso em depois mais tarde perguntar. O importante neste momento é que a recepção foi muito agradável.
Apresento-me. E o Professor identifica-se Gentil Gonçales Filho. Gentil de gentileza. Isto estava mais que claro. Gonçales diretamente de Espanha. Com ou sem permissão de Don Quijote de la Mancha. De Jaén ou como dizem os andaluzes Xaén. Jaén ou Xaén da Andaluzia. Província linda, exuberante e sempre vibrante com a cor vermelha como bandeira. Bandeira não da região, mas sim do povo. Das suas calles, da força dos seus olhares, das casas pintadas de branco, da forma enérgica de falar, dos seus dialetos locais, do poder das suas danças, da sua alegria contagiante e do sol que desenha as imagens da Andaluzia quase o ano todo mesmo estando em um continente dito como frio. O continente da mademoiselle Europa. Misturas de árabes e europeus. Vermelho vivo como o sangue da vida. E Filho? Filho porque é filho. Filho do sul da Espanha que até uma Costa do Sol tem. Talvez inspirados pela luz andaluz provavelmente a família Gonçales de forma tão gentil chegou à Cidade do Sol. Sol lá, sol cá.
O Gonçales chama-me a atenção. Porque em espanhol há muitas versões do original sobrenome Gonzalez. Pode ter acento agudo no a. Trocar o s pelo primeiro ou segundo z. O apellido Gonzalez possui diversos escudos e brasões. Mas eu acredito que esta versão do sobrenome Gonçales é a do ser humano que registrou os nomes de seus ascendentes familiares originários de Espanha no momento da chegada ao Brasil. Este tal relações públicas brasileiro que recebia os imigrantes depois de meses de viagens por mares nunca de antes navegados que se ocupava de registrar os que aqui chegavam em Terras de Esperanças Brasis não dominava muito bem as letras. Vogais ou consoantes. Nenhuma delas. Trocava tudo. Pode ser que não era poliglota. Afinal para todos naquela chegada triunfante o mais importante não era como quão bem se escrevia este ou aquele sobrenome, mas com muita garra, com a ajuda de Deus e ensolarados por  poemas de Luiz Vaz de Camões italianos, espanhóis, portugueses de Portugal, japoneses, africanos, árabes, negros, amarelos ou vermelhos, brancos também, judeus, asiáticos mil, tantos diferentes europeus e todas as pessoas de diferentes partes do mundo cantavam o Universo e vinham ao Brasil buscando o novo Reino que tanto sublimaram. Pois todos unanimemente tinham as lembranças que na alma lhe moravam. E com estas lembranças construiriam o novo Reino. As lágrimas choradas transformaram. Já não eram tempos de chorar. O passado ficou lá atrás. Novos ares, novos lares.
Ou será que o “rpBb” (relações públicas do Brasil brasileiro) ficava tão maravilhado com tanta gente de diferentes cores, olores e sabores que esquecia de escrever direito? Pode ser que pensava: Deus se utiliza de ventos contrários para nos conduzir ao porto. Realmente. Ao porto que ali estavam todos. O porto Brasil. Pronto para receber todos de braços abertos e fronteiras abertas viessem de que ventos contrários fossem. Ou registraram o sobrenome errado totalmente errado no cartório. Em bom português ou bueno espanhol o importante é que Gonçales significa aquele que já está salvo. Está salvo em qualquer idioma.
A sala não tem televisão. Sinônimo de pessoas educadas e cultas. A sala é lugar de gentes. Conversar e contar boas histórias. Visitas. Olhos nos olhos. Sorrisos sinceros. Risos espontâneos. De vários tipos de sucos com ou sem açúcar. Água ou até um café. Ir e voltar à Europa várias vezes. Dar a volta no mundo. Entrar e sair. Sentar e levantar. Pode ter batatas fritas ou coxinhas sim senhor. Afinal é sitio para charlar. Nas paredes alguns quadros de flores. Tem um que penso que é de Monet. E até alguns quadros com Deus como Barco Rebocador. Janelas com cortinas brancas e de linhas suaves que faz com que eu sinta-me ainda mais à vontade. Sala que abraça. Sala grande como o coração.
Gentil é simpático logo de entrada. Não há frescura. É o que é. Transparente como seu próprio ethos. Segundo o próprio ser ele mesmo sem máscaras. E a sua Indaiatuba é o cenário perfeito para que ele possa passear o seu ethos com naturalidade e de maneira verdadeira. O seu porto seguro. Há 24 anos leciona filosofia na escola estadual Dom José de Camargo Barros. Escola que tem até blog. E um pipoqueiro famoso. Nasceu já fazem cinquenta anos no Hospital Augusto de Oliveira Camargo. Quantos Camargos daqui e dali. Camargos seus, camargos meus.
Sua esposa Ana Maria Soares. De primeira formação contadora não de histórias, mas sim da contabilidade mesmo. E Ana também é professora. Professora de História. Graduação universitária. História da História mesmo. Nasceu no dia 19 do mês de novembro do ano de 1964. Os dois juntos professores no amor. Como os dois nasceram na Terra dos Indaiás o Sol tratou de selar os seus destinos. De maneira bem calorosa.
Ana diz que o Professor Gentil é uma lenda urbana. De fato Gentil é uma legitima   lenda urbana. Cheguei ao Professor através da recepcionista da biblioteca municipal Rui Barbosa. Que por sinal é ao lado da escola Dom José ou ao lado do pipoqueiro famoso. Como queiram. Comentei para ela que precisava biografar uma cidadã ou um cidadão desta Terra e também Morada do Sol e a jovem sem pestanear ou pensar sequer por apenas um segundo soltou imediatamente: Professor Gentil!
Assim são as lendas urbanas. Quando somos interrogados sobre algo de nossas cidades sempre em primeiro pensamento aparece o nome de alguma lenda. A propósito o nome da jovem da biblioteca é Debora. Não sei se com acento agudo no e, no o, no a ou com final h. Algum dia irei novamente à biblioteca ler um livro e perguntarei à ela. Sei que a Debora foi a responsável por eu estar sentado aqui nesta sala sem televisão. Para mim sem televisão é excelente sempre. Agora ou mais tarde. Tomando suco. Com açúcar, adoçante não. Muito obrigado.
Gentil tem uma imagem perfeita na sua mente que foi determinante na sua vida e que foi o primeiro momento da incomum, mas maravilhosa história com sua esposa Ana: ... sentada na sarjeta com um vestido branco... E ele tinha cinco anos. Que memória. Podemos não lembrar de quase nada nesta vida, mas a lembrança do amor todos nós nos lembramos sempre. Apenas uma imagem. Sentada na sarjeta. De vestido branco.
Antes disto com apenas três anos lembra-se da imagem de uma galinha. Seus pais tinham uma criação. E como gosta de galinha a imagem é marcante para ele. No viveiro de madeira. Não se lembra das cores. Acha que esta galinha em especial era marrom ou vermelha. As galinhas têm cores de todos os tipos. Galinha simboliza simplicidade, naturalidade e o imaginário feliz e tranquilo das roças. Agora a cor não é tão importante assim. Eu gosto de galinhas e não me lembro o porquê. Também gosto de cores. Galinhas de cores ou calmarias de roças. Tranquila paisagem. E imagem.  
Apesar que esta história incomum entre os dois tiveram alguns anos que não foram escritos porque a família de Ana mudou-se para Monte Mor. Até aqui tudo comum. Reencontraram-se alguns anos depois na faculdade. Mas nem tudo foram flores. Muitos rancores. Trabalhavam juntos na mesma empresa como inimigos. Chegando a tal ponto a inimizade que Ana pediu demissão. Mas não parou por aí o reencontro. Foi uma autêntica guerra emocional em que os dois lados inteligentes e engenhosamente hábeis em estratégias do eterno dilema mulheres contra os homens e vice-versa duelaram fortemente. Com bravuras espanholas e teatros italianos. Escorpião contra virgem. Virgem com a ajuda de algumas cobras contra escorpião. Foram muitas batalhas. Interrupções para responder perguntas feitas por parte de vários alunos nos horários dos sagrados almoços, vendas de coisas e pertences nos jornais por duas semanas com anúncios sempre ao lado das orações de simpatias, uma suposta sobrinha de Getúlio Vargas entrou na história, lembrete para visitar a mãe no hospital escrito na lousa do porão da universidade, mas que por favor ninguém apague isto, muitos telefonemas de compradores, mas muitos mesmos e ao final casamento no feliz ano de 1998. Não vou detalhar tudo porque hoje vivem felizes e faço bons votos que viverão para sempre. Nesta história da contadora professora de história e do filósofo lendário urbano não só o final foi o casamento como os dois lançaram juntos no dia 29 de junho do ano 2001 para as paradas de sucessos do Brasil ou do mundo Bia Büll. O seu nome completo já é universal: tem origens na Alemanha, Suíça, Itália, Portugal e logicamente Espanha. Vocês ainda não ouviram falar de Bia Büll, mas no futuro ainda ouvirão falar dela seja como baterista, como música, como jovem talento da literatura, como pintora de quadros ou como criadora de blogs, sites e vídeos. Pode ser que a conhecerão por ser tudo isto citado ao mesmo tempo. Porém neste momento Bia Büll faz muito sucesso como amiga. Amiga sincera das suas amigas. Amizade clara. Como indaiatubana que é Bia Büll sabe que é a cidade onde o sol tem calor de amizade. Foi o Padre Chico que criou esta frase não ela. Bia Büll guardem bem este nome artístico. Atualmente também desfruta de ser a filha amada do casal AG. Agora sim A de Ana e G de Gentil igual na placa que está na parede da frente da casa. Ponto explicado.
Voltando à maravilhosa Terra de Cervantes na província de Andaluzia... Os andaluzes têm muito este bom hábito de colocarem placas com nomes nas suas casas. São os próprios nomes ou os sobrenomes das famílias que se uniram. Ou algum com significado comum para todos da família.
Ele nasceu no dia cinco de setembro. Dia de São Gentil na Itália. A sua avó materna inclusive chama-se Carolina Tempesta. Tempesta em italiano significa tempestade. Para uma lenda urbana a tempestade é sempre uma amiga. Grande amiga.
Sua família morava na rua 5 de julho quando nasceu. Era 1963. Seis anos depois mudaram-se para a rua Humaitá. Desde aí via o pôr do sol, a estrada para Elias Fausto e os faróis acessos dos automóveis.
Neste exato momento na sala a lenda diz que sente saudades da tranquilidade do passado na cidade. Da tranquila avenida Kennedy. Avenida esta que foi um ponto de total transformação no desenvolvimento da Terra das bicicletas. Uma ruptura entre o passado e o moderno. Assim como foi o verdadeiro Kennedy que mudou completamente a visão das pessoas em todos os Estados Unidos. No norte da América. Um norte antes e um depois de Kennedy.
Lembra-se com total exatidão do lanche biônicão. Que era vendido perto do Banco Bradesco. E que quando passa nos dias que correm hoje na frente da loja do Magazine Luíza no centro a sua memória sempre o leva aos tempos do cinema Alvorada. Doce Alvorada da Luíza até poderia ser título de um filme que outrora fôra projetado neste cinema tão lembrado por vários indaiatubanos. Estes ainda conservam as lembranças de dias felizes passados dentro deste cinema nas alvoradas das tardes ou das noites. Tempos que Gentil diz que está muito presente nas cabeças de muitos tradicionalistas da cidade. Apesar de já terem passadas muitas décadas de anos.  
De repente sem avisar sem nada somente latindo entra a cachorra Daisy na sala. Sinto duas lambidas da Daisy. Talvez seja a forma de ela me cumprimentar. O seu “seja bem-vindo” canino. Para apresentá-la totalmente seu nome completo é: Triaccan Irish Daisy Pop. O seu nome encaixa-se perfeitamente na forma de Daisy ser. Cachorra bonita e bem tratada. Com simpatia irlandesa. E bem parece mesmo pop. Popular. E o Triaccan impõe respeito. Como ela é quando chega. Grande e alta impondo muito respeito. Daisy de Daisy mesmo.
Conta com grande entusiasmo e alegria de menino que quando montados em uma bicicleta Monareta ele pilotando e o irmão Edson na garupa desbravavam mundos novos e diferentes. Mundos estes que iam da rua Humaitá até onde atualmente está o restaurante João Coragem. Em cabeças de meninos bandeirantes afrontavam todos os obstáculos que à frente deles se entrepunham desde a origem até o final da honrosa trajetória. Podemos imaginar um dia após a primeira viagem dos bandeirantes de Indaiá a notícia de primeira página nos jornais solares (os mesmos que publicaram anúncios sobre vendas de coisas e pertences): “Os astronautas Gentilzinho e Edson acabam de atravessar a órbita entre os planetas Humaitá e Corajoso com uma espaçonave chamada Monareta”. Gentilzinho é o nome carinhoso que a sua mãe chama-o até hoje.    
Pausa para mais um suco. Uma água. Umas batatas.
E agora Ana me explica alguns dos quadros que estão nas paredes da sala. Sala que agora até parece a minha própria sala tamanho o sentimento de bem-estar que sinto. Três são especialmente citados com muito carinho. Ana fez as encomendas dos quadros à sua amiga Wilma para que pintasse dois que estivessem ela, Gentil e Deus próximos às marinas. Pedido feito. Brilhantemente como uma poeta com tintas nas mãos Wilma pintou três barcos próximos às marinas. Um barco rebocador que vai na frente simbolizando Deus guiando-os em direção aos seus destinos, um barco bem atrás do Rebocador que seria Ana e outro ao lado que é Gentil. Com toda beleza da Natureza à volta, suas paisagens, as águas, o céu... Detalhes que me inspiram a arriscar dizer que traduzem a felicidade do casal. Tudo muito sutil e de uma espiritualidade muito aguçada. Mas foram três quadros pintados e Ana havia pedido somente dois. O terceiro afinal foi uma surpresa de Wilma para eles. Ela o pintou sem Ana nem Gentil saberem. Apesar que Ana adquiriu também um ou dois quadros mais de flores da amiga e artista plástica. Cita os quadros de Monet. Aponta para um quadro feito pelo amigo pintor e vizinho Norberto. E depois vamos à cozinha onde na parede mostra um quadro em que Norberto pintou ou desvendou toda a alma de Ana. Realmente só os artistas abençoados com sensibilidade divina têm esta capacidade de pintarem almas. 
Aproveitamos e entramos no quarto da mega star Bia Büll. Um local recheado de quadros pintados por ela. Representando o século XXI estava a sua conexão digital que a coloca em contato com o mundo: o seu tablet modelo 2013. E um conjunto de cores entre paredes, quadros, almofadas, lençóis e demais pertences de Büll que mostram a capacidade artística e inovadora da jovem. Um autêntico caleidoscópio criativo. Também está um quadro que ocupa toda uma parede do Bia´s World pintado por Norberto que levou cinco anos para acabar de pintar. Um quadro cheio de simbolismos da infância, juventude, passagens para outros mundos e realidades, das transformações, própria vida, das alegrias, das felicidades, dos desafios, das surpresas e algumas pinceladas de diversos reinos imaginários ou não. De relance fixo outro quadro com um fundo vermelho pintado por Bia. E aí está. Como um DNA. Vermelho a cor do sangue. Sangue espanhol. Sangue de quem já está salva.
E quando voltamos à sala do aconchego queremos todos saber: Qual é a última do Gentil?
Então ele comenta da lembrança da primeira professora de alfabetização: Iraciara. Nome indígena com linguagem tupi porém ensinava meninas e meninos escreverem a língua dos homens e a falarem a língua dos anjos. A mesma língua de Gil Vicente. Atentos bem atentos o Vicente que é Gil escrevia magistralmente não somente a língua dos povos lusos como divinamente la lingua de Federico García Lorca. Era o ano de 1969. Neste ano o mundo passava por transformações inimagináveis. Agora se tudo isto passava na tela do cinema Alvorada já não sei. Vocês podem imaginar?
E gentilmente teatraliza que a primeira vez que foi à casa de Iraciara que ficava em outro planeta chamado Campinas viu uma estante cheia de livros de cima até embaixo. E seus olhos brilharam. Brilho da fome e sede do saber.
Mostra-me agora as duas fotos de casamentos que estão em cima de uma pequena mesa: a de seus pais e a de seus sogros. O interessante é que tanta a sua mãe como sua sogra estão de vestidos brancos. Nada raro para casamentos, mas a minha mente lembra-se imediatamente da visão inesquecível de Gentil: ... sentada na sarjeta de vestido branco ...
Gentil discursa agora sobre o passado e o presente do Sol. Desculpem-me de Indaiatuba. E chega a uma conclusão de que todos os produtos vendidos na cidade são afinal de excelente qualidade quer adquiridos deste lado ou do outro lado da linha do trem. Sem nenhum tipo de preconceito mais. 
Ana, Bia e Gentil surpreendem-me ao dizerem que todas as pessoas que os visitam pela primeira vez têm que escreverem em um caderno de memórias da família. Escrever com uma penna. Tradição originária de jantares de sextas-feiras. E tento traduzir em palavras todas as mágicas vibrações sentidas por mim naquela sala de tantas histórias, bons sentimentos, passados honrados, futuros prometedores, sabedorias, encontros e desencontros da vida que depois fazem com que todos nos encontremos de novo de uma forma ou de outra, muitas risadas, sucos, águas, batatas... Tudo com muita gentileza.     
Faço um grande voo de imaginação... E pensar que os primeiros indícios da Cidade do Sol datam de 1200... O que será que os nossos indígenas indaiatubanos pensavam... Na alvorada do que poderia vir a se transformar esta grande tribo.
Penso que há muito sentido em ter dois números na frente da casa tão gentil que me abrigou nesta linda e ensolarada manhã: 165 significa o passado glorioso, a tranquilidade, o Alvorada, as bicicletas, os raios ultravioletas e as memórias de grandes indaiatubanos e o 319 o novo, o progresso, os jovens aqui representados por Bia e Debora que construirão um futuro próspero para esta cidade e a coesão de todos os lugares e todas as nacionalidades em uma única tuba: a de Indaiá. 
Estou me sentindo tão bem que até já não tenho mais fome. E já não é mais manhã. Estamos no meio da tarde. Suco, batatas, mais suco, sorrisos, risos... Duas lambidas.
Esqueço de perguntar quem era o compositor daquela sinfonia tão maravilhosa que tocava quando cheguei. Uma música é uma música. Preencheu os espaços de criação dentro daquela casa de forma tão completa que o compositor cumpriu com o seu tratado de fé para com a eternidade. Seja ele surdo ou não.
Sinto então um sentimento leve de muita familiaridade. Professor Gentil tão próximo. Tão natural. Gentil é o mesmo nome do meu pai. Por isto me senti tão familiar com esta família. Gentilezas espanholas. Gentilezas italianas. 
Todos seres humanos são iguais debaixo do Sol.
Acima ou abaixo da linha do trem o céu é o mesmo para todos.

14 de novembro de 2013 (Data original)