domingo, 4 de maio de 2014

Atenção Renovadora

Meu conto "Atenção Renovadora" publicado no jornal literário "O Argonauta", edição nº 30 de maio/junho 2014, comemoração de cinco anos de atividade.


Eram exatamente e britanicamente três da tarde.
Richard chegara ao que considerava legítimo urbano, ou seja, na calçada da Regent Street. Asfixiava-se todas as vezes que andava de metrô. Enquanto respirava profundamente manteve-se hipnotizado com um olhar focado, penetrante e feminino vindo da esquina oposta em sua direção. Sentia todo o calor daquela mirada e, recompondo-se, caminhou rápido para o semáforo de pedestres para situar-se onde estava, tal era a distração.
Pensou nos acontecimentos daquela semana e das pessoas, que de alguma maneira, passara a conhecer. Participara do congresso mundial de geologia e esquecera por uma semana a sua querida San Diego. Confundia-se com a expressão séria dos pedestres e, de repente, os segundos de que dispunha para atravessar a rua transformaram-se em confusas imagens de faces, apertos de mãos e cartões de visitas em diversos idiomas... Não lembrava.
Ao perceber que estava de frente à Piccadilly Circus teve o atrevimento de verificar minuciosamente na esquina se o farol iluminado ainda permanecia. Para sua decepção, foi-se dali.
Como a solidão é o sentimento companheiro das boas novas nas grandes cidades do mundo, Richard sentiu um aperto no peito como se a partir daquele momento a necessidade daqueles olhos azuis e tão profundos fizessem parte do seu cotidiano.
Deu uma volta sobre todo o panorama dinâmico e turístico na esperança de duas pupilas que lhe tocaram a alma, porém em vão.  
Richard deu-se conta de que seu voo partiria às sete. Deixaria a sensação única de um olhar transformador em sua vida para trás. Ali mesmo, no centro de Londres.   

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